sábado, 10 de janeiro de 2009

De férias sim, e daí?

Uma coisa que me incomoda muito nas férias é a sensação de que todo mundo te acha um vagabundo, um privilegiado. Quando estou de férias não gosto muito de dizer que sou professor porque sempre vem aquela coisa assim: "Ah, que beleza hein? Depois querem reclamar de tudo. Qual profissão tem 3 meses de férias?"
Mas é aquela coisa de julgar a escola com o olhar de quem está de fora né? Ou então com o olhar de aluno, que é quando esteve em contato com a escola. As pessoas se esquecem que a nova LDB, desde 1996, mudou o calendário escolar, estabelecendo o mínimo de 200 dias letivos e com isso acabou com aquela história de que o sujeito entrava de férias em dezembro e só retornava a escola em março. Isso acabou. Temos um mês de férias, como todo mundo, em janeiro, e dez dias de recesso em julho. Que privilégio há nisso? As pessoas acham que é fácil enfrentar o cotidiano escolar? Trabalhar em casa feito um zumbi, madrugadas a dentro, finais de semana inteiros, sem ser remunerado? Ah, não me venha com essa de privilegiado não.
Estou de férias sim, e muito merecidas.

Ah, o verão!

Quando entra setembro não tem nada de boa nova se espalhando pelos campos, o clima tá todo doido. A não ser os renitentes ipês da beira-valão, aqui em Campos, que transformam o fétido esgoto que banha suas raízes em flores belíssimas. Nesses tempos eu não vejo a hora de chegarem as férias. Pois bem, chegaram. Chegaram e pingam lentamente dia-a-dia (ih, dia-a-dia continua com hífem, nessa nova grafia?), já estamos no dia 10.
Pronto, agora estou de férias e o que fazer com elas? Aquele momento aguardado desde setembro, quando os nervos já estão em frangalhos, quando não conseguimos ensinar mais nada, e os alunos também já não aprendem mais, quando a sala de aula, a dos professores, e todo o resto, vão se tornando um peso para todos, chegou. E agora? Quando as férias eram aguardadas eu sabia exatamente o que fazer com cada minuto delas, aproveitaria ao máximo, até mesmo olhar o céu azul seria um prazer colorido, como um comercial de Kolynos, mas agora que chegaram, cada minuto passa como se escorresse entre os dedos da minha mão.
Ainda por cima raros foram os dias de sol, ontem foi um deles, mas o restante foi só chuva, infiltração, goteira, mofo, enchente, desabrigados, mortos, e agora as doenças. Sem contar com a covardia mortal dos ataques genocidas dos israelenses contra os palestinos da faixa de Gaza, um absurdo! O fim da picada!
Enfim, professores. Tratem de recarregar as baterias porque 2009 promete. Felicidades e paz para todos.