terça-feira, 17 de junho de 2008

8ª Mostra de Pós-graduação e 13º Encontro de Iniciação Científica

A Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro convida toda a comunidade universitária a participar do 13º Encontro de Iniciação Científica e 8ª Mostra de Pós-Graduação que será realizado nos dias 17 a 19 de junho de 2008, no Centro de Convenções da UENF. Na programação estão previstas palestras, mesas-redondas, mesas de discussão apresentações orais e de pôsteres.
Este ano, o tema será “A vinda da família Real para o Brasil e seus impactos no ensino e pesquisa”.

Maiores informações, no site do evento.

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Professores: Entre Saberes e Práticas*

É muito comum ouvir queixas de professores, do tipo: “essa turma é complicada, ninguém quer nada!”; “não sei o que fazer, ninguém se interessa, os alunos respondem com estupidez, nos tratam como seus empregados”. No final do bimestre, na hora da entrega dos resultados, é aquele festival de notas vermelhas e surge um outro discurso: “Eu dei os conteúdos, mas eles não aprenderam, fazer o quê? Não se comportaram, agora está aí o resultado.” Sem dúvida, estamos diante de um problema que é mais complexo do que parece: As teorias de moda, as “pedagogias” neoliberais de auto-ajuda afirmativa dos diretores e coordenadores de escolas, a família dos alunos, geralmente, colocam a culpa nos professores. Afinal de contas de 35 alunos apenas 5 conseguirem nota azul, é sinal de que o professor não ensinou direito. Os professores, por sua vez, defendem que dão suas aulas, transmitem os conteúdos, mas não encontram apoio nas instituições em que trabalham, as famílias não acompanham o estudo dos alunos, e estes, por sua vez, não querem estudar, e não valorizam o conhecimento.

A complexidade deste tema passa por alguns aspectos que, muitas vezes, passam desapercebidos, e têm a ver com a própria característica da educação, de ser algo tão presente em nossas vidas, desde a infância, que acaba se naturalizando. Outro aspecto importante é a formação dos professores e a sua relação com os saberes que ensinam.

A escola se apresenta como instituição aberta, democrática, e a profissão docente acaba sendo terreno onde todos podem pisar. Todos opinam sobre como o professor deve agir, como deve ministrar suas aulas, avaliar, e de uma forma bastante invasiva, como não ousam fazer com o médico, o dentista, o advogado, o empresário, e até mesmo com aqueles que deveriam opinar de forma mais incisiva, como por exemplo os vereadores ou o prefeito. Todos acham que sabem como é ser professor, porque todos foram alunos. Aliás, ainda é comum ver engenheiros ensinando matemática, médicos ensinando biologia, advogados ensinando história.

Ainda hoje vivemos a predominância do paradigma da racionalidade técnica na formação inicial de professores, que se caracteriza por um conjunto de saberes e práticas que precisam ser observadas e reproduzidas ou aplicadas. Neste modelo o professor se apresenta como um instrumento de reprodução de saberes, um facilitador de conhecimentos científicos sagrados que não podem, em hipótese alguma, ser maculados. Dessa forma é negada a subjetividade do professor. A escola seria, para ele, o lugar da transmissão, e o livro didático, na maioria das vezes, a principal, senão a única fonte historiográfica utilizada por professores e alunos. Por isso se faz urgente uma maior reflexão, por parte dos professores, sobre a sua relação com os seus saberes e os saberes que ensinam.

Durante muito tempo a formação inicial de professores na escola normal, baseada neste paradigma tecnicista, incorporou vários símbolos do regime militar, como o uniforme com um galão no ombro indicando a série da normalista, o hino (que nunca poderia ser desrespeitado com manifestações como aplausos, por exemplo), a bandeira, a disciplina nos desfiles com trajes de gala, tudo isso mesmo depois do fim da ditadura, na década de 1980. As professorandas aprendiam como se portar, como apagar o quadro adequadamente (deslizando o apagador sempre em sentido vertical, nunca horizontal), e uma série de outras regras que deveriam ser seguidas e aplicadas criteriosamente.

Como reagir então ao fato de, mesmo tendo aplicado todas as técnicas de transmissão do conhecimento acadêmico, com total competência, o aluno não consegue realizar uma boa prova? Muitas vezes os professores não conseguem responder a esta pergunta de outra forma senão aquelas citadas no início deste texto.

Diante desta complexidade, é fundamental que haja, por parte dos cursos de formação de professores, das administrações escolares e, principalmente, do próprio professor, que é necessária a tomada de consciência de que o professor é um profissional intelectual, que vai além de um mero reprodutor de conteúdos externos e que, no interior da escola, na sua prática docente, com sua bagagem cultural (livros, filmes, músicas, debates...), também é produtor de conhecimento. Assumir esta postura resolve em parte os problemas que o afligem, pois fortalece a sua profissionalização, transforma a sua prática cotidiana com os alunos em algo significativo, tornando os próprios conteúdos ensinados significantes e, conseqüentemente, apreensíveis.

Não estamos falando, portanto de culpados ou de vítimas, mas da necessidade de uma maior reflexão sobre nossos saberes e práticas.


* Título de um artigo da professora Ana Maria Monteiro, da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro.


Para saber mais:

ANDRADE, Everardo Paiva de. Mais História e Ainda Mais Docência: Por uma epistemologia da prática docente no ensino de história. Campos dos Goytacazes, RJ. Ed. FAFIC – Faculdade de Filosofia de Campos, 2002;

__________________. Um Trem Rumo às Estrelas: A Oficina de Formação Docente Para o Ensino de História (O Curso de História da FAFIC). Tese de Doutorado defendida no programa de pós-graduação da Faculdade de Educação da Universidade Federal Fluminense. 2006; disponível em: http://www.bdtd.ndc.uff.br/tde_arquivos/2/TDE-2007-11-27T131835Z-1111/Publico/Tese-Everardo%20Andrade.pdf

BITTENCOURT, Circe Maria Fernandes. Ensino de História: fundamentos e métodos. (Col. Docência em Formação). São Paulo, Cortez, 2004

KARNAL, L. (Org.). História na sala de aula - Conceitos, práticas e propostas. São Paulo: Contexto, 2003. v. 1. 216 p.

MONTEIRO, Ana Maria Ferreira da Costa. Professores de História: entre saberes e práticas. Rio de Janeiro, Edito ra Mauad, 2007;

___________________. A história ensinada: saber escolar e saberes docentes em narrativas da história escolar. Disponível em: http://www.anpuh.uepg.br/xxiii-simposio/anais/textos/ANA%20MARIA%20MONTEIRO.pdf