sábado, 29 de outubro de 2011

A expansão do grupo Abril para o Norte-Fluminense

Há rumores de que o colégio PH, escola-cursinho de elite da capital fluminense, acaba de firmar parceria com uma escola privada de Campos dos Goytacazes, no norte do estado. No acordo, a escola que não possui ensino médio, implantaria o ensino médio da rede PH, que abocanharia boa parte do "mercado" de educação na região.
É importante ressaltar que o colégio PH é parte do monopólio criminoso e perigosíssimo da Editora Abril, que engloba não só o segmento de publicações (tendo como carro chefe a revista Veja - principal porta-voz do conservadorismo da elite brasileira e dos interesses do capital internacional) mas também a MTV Brasil (um dos canais mais assistidos pelos jovens da classe média brasileira - que lança um olhar bastante paulistano e um discurso muito vazio sobre a cultura e a política brasileira) e setores centrais da educação brasileira, tanto privada (propriedade de grandes redes de ensino privado) como influência indireta no setor público, através da publicação de material didático.
Sim, senhores, a Abril é dona do Sistema Anglo de Ensino, do Sistema SER e sua mais nova aquisição foi o Curso e Colégio PH, além da escola técnica ETB e o curso preparatório para concursos públicos Siga. Não bastasse isso, a Abril também é dona de duas entre as maiores editoras de livros didáticos e paradidáticos do Brasil, a Ática e a Scipione.
Para quem pensava que o único perigo oferecido pela Abril era a Veja, saiba que a coisa é muito mais grave. Através de reportagens alarmistas em seus meios de comunicação acusam determinados livros didáticos (de outras editoras, obviamente) e também o próprio ensino de história e demais disciplinas de ciências humanas como doutrinadores ideológicos de esquerda. Veja defende o esvaziamento  da abordagem crítica por parte dos professores em detrimento do que há de mais conservador, instrumental e patético possível, que é uma abordagem extremamente factual, mecânica, burra dos conteúdos escolares.
Além disso a Abril sustenta uma verdadeira cruzada contra o ministro da educação Fernando Hadad, pré-candidato do PT à prefeitura de São Paulo e possível candidato à sucessão de Dilma na presidência da república.
Uma das grandes obras do ministro Hadad foi a ampliação da rede federal de ensino, tanto superior (com a criação de novos campi universitários no interior do Brasil e mesmo de novas universidades federais), como também do ensino básico, técnico e tecnológico (com a quase triplicação do número de escolas técnicas de nível médio, superior e até pós-graduação), através dos Institutos Federais.
Outra grande obra de Hadad foi a batalha contra o vestibular com a reformulação do ENEM democratizando o acesso ao ensino superior no Brasil, e esse é o ponto que talvez mais incomode o grupo Abril, pois o ENEM desmonta o esquemão da máfia dos cursos pré-vestibulares e do ensino privado dos quais ela é proprietária. A Abril com seu discurso tucano defende a universidade para poucos, para a elite. A Abril também e dona da maior gráfica da América Latina, que nunca venceu licitação pra imprimir as provas do ENEM. Coincidentemente o escândalo do ano passado envolvia uma gráfica, lembra?
Então, minha gente, enquanto os demotucanos estiverem na oposição sempre haverá um forte esquema de sabotagem ao ENEM. O último episódio envolvendo o Colégio Christus de Fortaleza não foi falha do governo como a Abril e a Globo tentam nos fazer crer, mas sim um ato criminoso por parte de indivíduos que não deveriam estar na sala de aula e sim na cadeia. Professores que trabalharam na aplicação dos pré-testes do ENEM copiaram as questões e as colocaram em apostilas do Christus. Os pré-testes são uma metodologia do INEP para o banco de dados de questões, são provas aplicadas esporadicamente por amostragem em escolas de diferentes características em que só os alunos tem acesso às questões, pelo menos assim deveria ser, mas algum pilantra, desses que ficam fazendo discurso contra a corrupção, se apropriou indevidamente das questões.
Por quê a imprensa não noticia esse fato como um ato criminoso de um membro importante da máfia das escolas-cursinho de elite?
Pois bem, jovens, sobretudo os de Campos dos Goytacazes, saibam que o que está vindo para a cidade faz parte desse jogo sujo. Não deixem que pensem que vocês são tão ingênuos. A iniciativa privada sempre irá detonar as políticas públicas, sobretudo quando essas são bem-sucedidas e atrapalham seus lucros. Pensem nisso.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Os resultados do ENEM e os riscos desse tipo de classificação


O Ministério da Educação divulgou nesta segunda-feira o desempenho das escolas das redes pública e privada em todo o Brasil no Exame Nacional do Ensino Médio – ENEM. Este exame faz uma análise do desempenho das escolas nas áreas do conhecimento, a saber: Linguagens, Códigos e Suas Tecnologias; Matemática e suas Tecnologias; Ciências da Natureza e Suas Tecnologias; Ciências Humanas e suas Tecnologias; avaliando habilidades e competências dos alunos. O exame consiste em prova objetiva e redação.
Apesar de ser utilizado como forma de ingresso nas principais universidades do país, ainda existem diferentes níveis de participação dos alunos no exame. Antes de 2009, quando os pontos do ENEM eram parcialmente utilizados e de forma muito restrita por algumas instituições de ensino para o ingresso ou para a obtenção de bolsas, o ENEM era utilizado pelas escolas como uma espécie de hanking que supostamente mediria a qualidade das escolas. Nada mais do que uma estratégia de mercado, tanto das instituições privadas quanto públicas, visto que as políticas públicas de financiamento são sempre quantitativas então, quanto mais alunos, mais verba.
As escolas particulares, dessa forma sempre selecionaram pequenos grupos de alunos e os treinaram para a prova. Assim, não importava se 100 ou 10 alunos tivessem feito a prova, o resultado divulgado pelo MEC não levava isso em consideração. Então, se todos os alunos concluintes do Ensino Médio (incluindo os de melhor e pior rendimento) fizessem a prova numa escola, e na outra apenas aqueles previamente selecionados e treinados (ou seja, os melhores) tivessem participado, as médias das duas escolas iam parar no mesmo ranking. Obviamente aquela que incluiu uma maior diversidade saía perdendo e portanto não se tratava de um “hankeamento” coerente.
Este ano os resultados foram divulgados em categorias diferentes, o que diminui a incoerência mas não a elimina. Este ano o MEC criou categorias diferentes de acordo com as taxas de participação:
Grupo 1: Taxa de participação igual ou superior a 75%
Grupo 2: Taxa de participação maior ou igual a 50% e menor do que 75%
Grupo 3: Taxa de participação maior ou igual a 25% e menor do que 50%
Grupo 4: Taxa de participação inferior a 25%
Dessa forma orienta-se a comparação ou “hankeamento” agrupando as médias totais a estas categorias de participação. Pode ser considerado um avanço em relação à situação anterior, pois a escola que teve participação aristocrática, selecionando os melhores, não irá competir com aquelas que tiveram uma participação mais ampla e democrática, com a participação de quase totalidade dos alunos, mas ainda traz alguns problemas.
Esse resultado do ENEM, por exemplo, não considera o grau de exclusão que há no interior das escolas ao longo dos 3 anos do Ensino Médio. Corremos o risco de, em nome de um bom posicionamento competitivo dentro do ENEM, eliminar aqueles alunos que poderiam representar um decréscimo no hanking, o que seria um absurdo principalmente nas instituições públicas de ensino.
Imagine uma escola que teve 100% de taxa de participação mas possui apenas duas turmas de 3º ano do Ensino Médio, tendo em média 25 alunos por turma. Nessa mesma escola havia o dobro de turmas de 1º ano com média de 40 alunos por turma. O que aconteceu? Simplesmente cerca de 70% dos alunos que iniciaram o ensino médio não chegaram à série concluinte formada apenas por indivíduos criteriosamente selecionados. E aí, 100% de 50 é 50. E se eu tenho apenas 50 alunos brilhantes fazendo a prova, é bem provável que meu desempenho seja superior, e essa seria então a melhor escola, correto?
Acho que devemos então repensar essa questão meramente classificatória e quantitativa que estes hankings impõem às escolas. Questões relacionadas ao ensino e ao currículo não devem ser reféns desses instrumentos classificatórios e mercadológicos, pois escola boa não é a que exclui, é a que ensina e desenvolve a autonomia do cidadão em formação.

sexta-feira, 4 de março de 2011

2010 não passou em branco

Só hoje fui me dar conta de que não postei nada aqui em 2010, justamente nesse ano tão agitado, pelo menos para mim.
A ideia inicial deste blog, que era partilhado com o professor Gileno Azeredo, era falar sobre as realidades do ensino privado e do ensino público, uma vez que eu trabalhava apenas no setor privado e o Gileno na rede estadual (RJ) de ensino.
Porém as coisas mudaram. Primeiro, Gileno deixou de aparecer aqui há muito tempo. Segundo, não me encontro apenas na rede privada, pois desde janeiro de 2010 sou servidor federal, professor do Instituto Federal Fluminense, no campus Bom Jesus do Itabapoana. Talvez por todo o processo que envolveu minha entrada na rede federal, desde o concurso em 2009, que tinha apenas 1 vaga para professor de história, até as dificuldades de adaptação à realidade do ensino técnico agrícola na região mais pobre do estado do Rio de Janeiro, é que tenha me afastado do blog.
Porém a partir de agora vou tentar atualizar com mais frequência.
Até a próxima.