sábado, 5 de dezembro de 2009

ENEM: Primeiro dia de provas

Hoje foi o primeiro dia de provas do Exame Nacional do Ensino Médio, o ENEM, que este ano vai além de um instrumento de avaliação do Ministério da Educação, tornando-se a prova de ingresso em várias universidades federais no país, ou pelo menos parte da seleção de algumas delas.
Essa não é a única transformação no "novo ENEM", na verdade, ao substituir o vestibular em instituições importantes como a UFRJ, que adotará a prova como primeira fase, o ENEM traz à tona a discussão sobre Competências e Habilidades, conteúdos significativos, eixos temáticos, etc, que não é novidade pois está no ar desde a Lei de Diretrizes e Bases da Educação LDB 9394/96 e dos Parâmetros Curriculares Nacionais, os PCN, mas que se mantém adormecido desde a década de 1990.
O professor geralmente pensa que esses assuntos, que são centrais na sua prática profissional, são "coisa de pedagogo". Pensa também que o que determina os caminhos da educação básica é o vestibular. Pois bem, agora está aí o ENEM, abalando essas certezas. E agora?
O dia de hoje foi marcado por muita ansiedade para muitos envolvidos nesse processo, alunos e professores.
Trabalhei na aplicação da prova, só pra ser um dos primeiros a ter acesso a ela. Na minha sala, fiz questão de cortar com a tesoura o envelope que lacrava as provas e exibir para os alunos.
Fiquei olhando para aquelas carinhas e pensando em quanto tempo eles estavam esperando por essa prova, quanta confusão depois de tudo o que já foi dito e vem sendo discutido e trabalhado pelas escolas ao longo deste ano tão conturbado, marcado pela gripe suína que alterou todos os calendários, e pelo adiamento da prova por conta do vazamento.
Foi bom também ver ali misturados aos adolescentes, adultos, alguns já maduros, utilizando o ENEM como forma de obter a conclusão do Ensino Médio. E não foi apenas essa a diversidade, mas também de ver uma maioria de alunos da escola pública se dedicando à prova.
Muitos participantes, ao final, reclamaram do pouco tempo para fazer uma prova tão grande, que exigia não apenas o conhecimento do conteúdo, mas a capacidade de análise e interpretação dos candidatos.
Hoje foram realizadas as provas de Ciências da Natureza e Suas Tecnologias e Ciências Humanas e Suas Tecnologias. No tocante a esta última área, gostaria de ressaltar que a prova de geografia esteve bem elaborada, pelo que pude ver. Explorando bem a capacidade dos alunos em leitura de mapas, gráficos e tabelas. Nada mais daquela prova de geografia onde se tinha que decorar dados, até porque esses são efêmeros... o que o cidadão precisa saber fazer é lidar com os dados, que podem ser consultados a qualquer momento.
A prova de história também trouxe avanços. Numa mesma questão, baseada num determinado tema, as alternativas abordavam períodos históricos diferentes, exigindo do aluno a capacidade de transitar entre diferentes períodos, fazendo as devidas análises e comparações. Apesar disso, ainda trouxe resquícios do conteudismo.
Um grande problema da prova foi o horário. A prova teve início às 13h, mas os alunos foram orientados a chegar com uma hora de antecedência aos locais de prova. Com isso muitos alunos e aplicadores não tiveram tempo de almoçar antes da prova, sobretudo nas cidades que não estão no horário de verão.
A primeira prova do ENEM, a que vazou, foi muito criticada por ter sido muito "fácil". Esse teria sido o motivo para que algumas universidades desistissem de adotá-lo como instrumento único de seleção, e trouxe um certo descrédito por parte dos alunos. Comparando com a prova de hoje, acho que há uma grande diferença, inclusive na dificuldade, que vai além do óbvio, mas que atende a necessidade de avaliar se o ensino médio está ensinando, e principalmente, se está ensinando o que um cidadão precisa saber.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Recuperação: um nó no processo de avaliação

Após um longo debate hoje na escola a respeito de métodos de recuperação do rendimento dos alunos, é possível concluir que este talvez seja o maior problema dos processos de avaliação.
Hoje se pensa numa escola includente, diferente daquela de exclusão, que me fez repetir a sétima e, em seguida, a oitava série, porque só havia recuperação ao fim do ano letivo e não havia a possibilidade de se perder em nenhuma disciplina, já que não havia dependência. Esses dois anos perdidos certamente alteraram meu destino, mas não é possível avaliar isso qualitativamente agora. Uma coisa é certa: continuei sem saber matemática, saí da educação básica mais tarde que os demais e tive problemas em minha vida acadêmica um pouco por isso.
De lá pra cá, muita coisa mudou. Passaram a existir processos de recuperação paralela, que segundo determinada interpretação, significava diluir a recuperação ao longo do ano letivo, permitindo assim ao aluno recuperar sua nota em cada disciplina, em cada bimestre, contando ainda com a recuperação no final do ano. A radicalização desse discurso, no início dos anos 2000 - acompanhando toda a onda neoliberal que parece querer formar não cidadãos mas apenas consumidores, que saibam ler, escrever, ter cartão de crédito, saber operar caixa eletrônico e comprar pela internet - trouxe a idéia, sintetizada na seguinte frase, muto ouvida nas reuniões escolares: "se escola boa é a que reprova, hospital bom é o que mata". Nem tanto ao céu, nem tanto à terra.
Hoje, talvez devamos nos perguntar o que deve saber alguém para ser considerado "aprovado".
Ainda vivemos num sistema de ensino tão excludente quanto aquele que me reprovou no passado. Enquanto a educação for baseada em notas, enquanto for um processo meritocrático, não será para todos. E não estou falando apenas em questão de classe, mas também em questão cognitiva. A nota 100 de João não é igual ao 100 de Pedro, pois são indivíduos diferentes, embora inseridos numa estrutura coletiva que é a escola, numa relação coletiva da sala de aula (cada vez mais coletiva porque o número de alunos por classe é cada vez maior...), mediada por um único professor, que não dá conta dos problemas individuais de cada um.
O aluno recupera o que não aprendeu ou recupera a nota que não obteve? O que queremos? Será que todos os alunos que obtém boas notas são indivíduos que contribuem com o desenvolvimento de uma sociedade mais ética e democrática? Será que os que não obtiveram boas notas merecem ser punidos por isso? Será que devemos recuperar conteúdos ou competências e habilidades [1]?

De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, a LDB 9394/96, em seu Art. 12, inciso V, os estabelecimentos de ensino devem prover meios para a recuperação dos alunos de menor rendimento, cabendo aos docentes o estabelecimento das estratégias para tal, de acordo com o inciso IV do Art. 13.
O Art. 24, que determina as regras de organização do ensino fundamental e médio, define no inciso V, sobre o acompanhamento do rendimento escolar, no item "e", a "obrigatoriedade dos estudos de recuperação , de preferência paralelos ao período letivo, para os casos de baixo rendimento escolar, a serem disciplinados pelas instituições de ensino em seus regimentos".
Os questionamentos levantados pelos professores hoje são: "É justo um aluno não ter participado de todas as atividades, não ter estudado o quanto deveria para obter êxito, ter a chance de realizar uma prova de recuperação que o permita ter uma nota superior à daquele aluno que se esforçou e conseguiu a média?" "Apenas a chance de uma nova prova substituindo todas as avaliações anteriores é o suficiente para recuperar a nota?"

Estamos diante de um conflito entre uma legislação que garante ao aluno o direito de recuperar o seu rendimento (não fala em nota, pois esse talvez possa ser medido de outra forma), e uma estrutura escolar que não oferece tais possibilidades.

Sabe como seria possível não só atender à legislação como obter um resultado satisfatório? Uma escola em tempo integral, com professores dignamente remunerados para dedicarem-se exclusivamente àquele estabelecimento e aos seus alunos. Assim, paralelamente às aulas regulares ocorreria o trabalho de recuperação, em outro turno, ocorreria o trabalho de recuperação, que seria feito após cada atividade avaliativa com aqueles alunos que não tivessem alcançado os objetivos planejados pelo professor.
Mas estamos longe desta realidade.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Carta aberta dos professores fluminenses

Acabo de receber por e-mail uma carta aberta à população do estado do Rio de Janeiro, assinada pelos professores da rede estadual de ensino.
Na carta os professores esclarecem a questão do aumento do salário que atualmente gira em torno dos R$ 540,00 (líquido) anunciado pelo governo como um grande progresso mas que na verdade é uma desvalorização ainda maior da classe. Nesse parcelamento, muitos professores receberão um aumento de aproximadamente dois reais em 2010!
Com relação à climatização das salas e aos notebooks fornecidos aos professores, grandes peças de propaganda do governo, os professores destacam que além dos gastos com o aluguel dos aparelhos de ar-condicionado, haverá também um aumento nas contas de energia. Em relação aos notebooks, os aparelhos não pertencem aos professores, mas estão cedidos pelo sistema de comodato, podendo ser recolhidos a qualquer momento.
Mas o pior de tudo nesta carta aberta, o mais preocupante, é o dado em relação aos pedidos de exoneração, que chegam à média de 30 pedidos por dia. Inclusive este que vos escreve pediu exoneração dois meses após assumir sua vaga, por não ter condições de trabalhar na escola para a qual a coordenadoria de educação o enviou, afim de guardar as melhores vagas para seus apadrinhados políticos. Não quis participar disso e nem pedir favor a ninguém.
Se o concurso é, pelo menos até agora, a forma mais justa de selecionar profissionais para o serviço público, e se o seu caráter meritocrático contribui para a qualidade dos quadros do funcionalismo, a desistência de muitos pode agravar ainda mais a qualidade do ensino, frustrando qualquer esperança em um ensino público de qualidade.
Uma lástima!

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Feliz dia do professor

Na TV, outro dia, vi a propaganda do MEC sobre a importância do professor no desenvolvimento dos países.

Fiquei emocionado com essa propaganda. Mas triste em perceber que, mesmo sendo o profissional central no desenvolvimento da democracia e consequentemente, no desenvolvimento econômico e humano, o professor, em vários países do mundo, inclusive nos desenvolvidos, ainda é um profissional muito desvalorizado financeiramente, profissionalmente... moralmente.
E diante disso me preocupo com as futuras gerações de professores. Quem estará disposto a assumir essa tarefa?
Fiz essa escolha nos anos 90, quando ainda havia um resquício de ideologia no ar. Hoje são poucos os jovens interessados pelo magistério, pela transformação social através da educação. É compreensível e preocupante.
Temos um grande desafio nessa virada de milênio. A informação, tão cara em outros tempos, quando a tínhamos que buscar em enciclopédias, agora toma de assalto nossos jovens incautos, através dos infinitos canais de TV, da internet (seja pelo celular, notebook com rede wireless, em casa ou mesmo na lan-house das esquinas da periferia). Os professores não são mais os oráculos de outrora. O saber de sua disciplina era sua arma de defesa perante a sociedade e os alunos. o professor era aquele que "sabia". Hoje, esse "saber" é relativo. Os "conteúdos" que sempre "ensinamos", se não tiverem algum significado, alguma utilidade prática perceptível pelos alunos, não se transformam em conhecimento, e sim num mero engodo burocrático, em troca de uma nota.
Nosso desafio hoje é contribuir para a construção do conhecimento. É assistir com eles uma matéria do Jornal Nacional via youtube, um documentário, e, em seguida, debater um texto... tudo em aproximadamente 50 minutos. Ufa! Não é fácil. Ainda mais quando se tem que trabalhar em cinco escolas diferentes... definitivamente, não dá. E por isso mesmo é um desafio. Os professores de história da educação básica não formam historiadores, mas cidadãos. Pouco me importa se meus alunos sabem quem foi Martim Afonso de Souza ou quantas foram as capitanias hereditárias... mas sim que tenham a dimensão da questão agrária no Brasil, e da profundidade de suas raízes históricas. Da distribuição em sesmarias à lei de terras de 1850 é um salto de séculos, mas apontando para uma mesma questão, que passa pela guerra de Canudos, do Contestado, pelo MST até o assassinato da Irmã Dorothy Stang e a questão ambiental, assim também como a destruição dos laranjais da Cutrale na semana passada.
Precisamos enfrentar estes desafios, precisamos estar abertos para os questionamentos, precisamos questionar nossas práticas e encará-las como exercício intelectual, na construção do conhecimento. Não somos meros reprodutores, mas sim construtores do saber. Acredito que a partir daí avançaremos na nossa valorização, mostrando que trazemos saberes específicos de nossa profissão, que existe um terreno onde nós, e apenas nós, dominamos.

Feliz dia dos professores a todos.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

PROFESSORES EM ALERTA

Caros blogueiros,
Nós, professores do Colégio Estadual José do Patrocínio (CEJOPA), após reunião realizada no dia 09/09/2009, às 10h, nas dependências desta unidade de ensino, decidimos paralisar as atividades na instituição em repúdio às agressões sofridas por profissionais da educação na última terça-feira. A manifestação realizada em frente ao prédio da ALERJ, no Rio de Janeiro, contra o descaso das autoridades em relação à categoria foi reprimida violentamente, deixando 11 professores feridos.
A decisão sobre a paralisação nesta unidade foi tomada pela maioria presente na reunião, e todos os professores se dirigiram às salas de aula com o objetivo de comunicar aos alunos sobre a posição adotada. Buscamos ainda conscientizá-los a respeito do comprometimento de todos, docentes e discentes, na luta por uma educação responsável e de qualidade.
Finalmente, estaremos reunidos amanhã, 11/09, às 7h30min, a fim de apurarmos os resultados deste ato, reafirmando uma posição de alerta contra todas as atitudes que ameacem a construção de um projeto de sociedade livre, justa, ou que não considerem a educação como princípio básico.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Lenta incorporação

Finalmente, o Nova Escola será incorporado ao piso dos professores da rede estadual de ensino, no Rio de Janeiro. Porém há protestos pois a medida também discute o fim do programa de cargos e salários, acabando com a hierarquização, nivelando todos os docentes ao piso.
A incorporação desta gratificação, criada no governo dos Garotinhos, que premiava os professores de acordo com a "produtividade" das escolas, é uma luta antiga dos profissionais da educação, e desde maio deste ano se anunciava a possibilidade de o governador Cabral atender a esta questão, que, como lembra o prof. Fábio Siqueira, foi promessa de campanha.
No entanto, não se esperava que ocorresse da forma como se anuncia agora, parcelada a perder de vista, ou seja, tem-se um aumento real de salário, coisa que não se vê há muito tempo para a categoria, porém, este aumento não será sentido pelo trabalhador a curto prazo, mas sim gradualmente.
O professor fluminense tem um dos piores salários do Brasil. Numa comparação é possível notar que o salário do professor corresponde a 0,0002% do PIB estadual, no Rio e em Minas Gerais, junto a São Paulo com 0,0001%. Ou seja, as maiores economias do país são as que mais massacram os profissionais da educação.
Enquanto o professor no Rio tem um piso de R$ 540,65, no Acre o salário é de R$ 1.498,00, num Estado que representa uma das menores economias da Federalção.
Nos estados onde os salários são maiores (mesmo sem comparar com o PIB) há um número maior de docentes na rede pública - pagam mais e contratam mais proporcionalmente. É claro que existem muito mais professores no Rio que no Acre (62.261 no primeiro contra apenas 5.946 no segundo). Mas para se ter uma idéia, no estado de Roraima, segundo maior salário do país, em termos percentuais, o número de professores corresponde a 1% da população do estado, seguido pelo Acre, onde 0,86% da população é de docentes. Na região Sudeste entretanto, o Rio de Janeiro é o estado com o menor número de professores estaduais - e sabemos que o número de contratações é bastante inferior à demanda -, enquanto que em Minas temos 0,65% da população formada por docentes e em São Paulo, 0,56%. Os professores fluminenses são apenas 0,39% da população, e têm que trabalhar bastante, com carga horária reduzida na grade para poder desdobrar-se em várias escolas, em troca do 8º pior salário do país.
Clique na imagem para ampliar

De qualquer forma, devemos considerar uma vitória a incorporação do Nova Escola, porém, não devemos tomar como "a" vitória. Trata-se de um primeiro passo rumo a valorização da profissão docente, que não se baseia apenas em melhores salários, mas no reconhecimento de sua importância para a construção de uma sociedade mais desenvolvida, sustentável, ética e justa, e isso passa também por uma melhor formação e do reconhecimento, por parte dos próprios docentes, do seu papel enquanto trabalhadores intelectuais.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Novo ENEM

Estão disponíveis no site do MEC 40 questões que servem como modelo para o novo ENEM.
http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=14041

As provas:
Ciências da Natureza
Ciências Humsnas

Linguagens e códigos
Matemática e suas tecnologias

terça-feira, 31 de março de 2009

45 anos do golpe de 64

O Clube Militar, no Rio de Janeiro, prepara os festejos de comemoração dos 45 anos do golpe militar. É mole? Viva a democracia, que permite sua livre manifestação.
A TV UOL mostra uma matéria sobre as comemorações. O pior não são as comemorações dos militares, mas os comentários ao vídeo. É de se preocupar. Cliquem aqui e vejam.

domingo, 15 de março de 2009

Expansão da UFF

Atenção vestibulandos, serão criados mais três novos cursos na UFF - Norte Fluminense: Geografia (licenciatura e bacharelado - noturno); Ciências Sociais (licenciatura e bacharelado - noturno); e Economia (bacharelado - diurno).
Logo, logo o vestibular estará sendo divulgado. Fiquem espertos!!!

Informação divulgada pelo blog habitus academicos, do prof. Eugênio Soares.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

2009 começou

Estamos de volta. Voltamos às aulas. Hoje conheci novos alunos, enchi-me de esperanças novamente ao apresentar-lhes minha disciplina. Neste primeiro dia de aula não consigo me esquecer de quando era aluno. É muito melhor ser aluno que professor, principalmente no primeiro dia de aula. A cada palavra me lembrava dos meus primeiros dias de aula quando era aluno: o cheiro do material novinho, da borracha, do estojo, os livros e cadernos encapados, tudo pra dar certo ao longo do ano. No primeiro dia de aula é tudo perfeito. Cada gesto do professor e dos alunos define como será essa relação diária.
Eu fiquei contente. Falei hoje que "a história é filha do seu tempo", que é uma ciência do presente tendo o passado como ferramenta, que está além dos livros e do ambiente da sala de aula; coisas simples que me fariam gostar de matemática, provavelmente. Falamos dos projetos, do vestibular, de como lidar com a informação... linha do tempo no quadro (não pode faltar...), e bola pra frente.
Um abraço a todos,
E mais um ano inteirinho pela frente.

sábado, 10 de janeiro de 2009

De férias sim, e daí?

Uma coisa que me incomoda muito nas férias é a sensação de que todo mundo te acha um vagabundo, um privilegiado. Quando estou de férias não gosto muito de dizer que sou professor porque sempre vem aquela coisa assim: "Ah, que beleza hein? Depois querem reclamar de tudo. Qual profissão tem 3 meses de férias?"
Mas é aquela coisa de julgar a escola com o olhar de quem está de fora né? Ou então com o olhar de aluno, que é quando esteve em contato com a escola. As pessoas se esquecem que a nova LDB, desde 1996, mudou o calendário escolar, estabelecendo o mínimo de 200 dias letivos e com isso acabou com aquela história de que o sujeito entrava de férias em dezembro e só retornava a escola em março. Isso acabou. Temos um mês de férias, como todo mundo, em janeiro, e dez dias de recesso em julho. Que privilégio há nisso? As pessoas acham que é fácil enfrentar o cotidiano escolar? Trabalhar em casa feito um zumbi, madrugadas a dentro, finais de semana inteiros, sem ser remunerado? Ah, não me venha com essa de privilegiado não.
Estou de férias sim, e muito merecidas.

Ah, o verão!

Quando entra setembro não tem nada de boa nova se espalhando pelos campos, o clima tá todo doido. A não ser os renitentes ipês da beira-valão, aqui em Campos, que transformam o fétido esgoto que banha suas raízes em flores belíssimas. Nesses tempos eu não vejo a hora de chegarem as férias. Pois bem, chegaram. Chegaram e pingam lentamente dia-a-dia (ih, dia-a-dia continua com hífem, nessa nova grafia?), já estamos no dia 10.
Pronto, agora estou de férias e o que fazer com elas? Aquele momento aguardado desde setembro, quando os nervos já estão em frangalhos, quando não conseguimos ensinar mais nada, e os alunos também já não aprendem mais, quando a sala de aula, a dos professores, e todo o resto, vão se tornando um peso para todos, chegou. E agora? Quando as férias eram aguardadas eu sabia exatamente o que fazer com cada minuto delas, aproveitaria ao máximo, até mesmo olhar o céu azul seria um prazer colorido, como um comercial de Kolynos, mas agora que chegaram, cada minuto passa como se escorresse entre os dedos da minha mão.
Ainda por cima raros foram os dias de sol, ontem foi um deles, mas o restante foi só chuva, infiltração, goteira, mofo, enchente, desabrigados, mortos, e agora as doenças. Sem contar com a covardia mortal dos ataques genocidas dos israelenses contra os palestinos da faixa de Gaza, um absurdo! O fim da picada!
Enfim, professores. Tratem de recarregar as baterias porque 2009 promete. Felicidades e paz para todos.