sexta-feira, 3 de outubro de 2008

"O passado já ficou pra trás"(?)

Assim diz o jingle da candidatura do PMDB à prefeitura de Campos dos Goytacazes. E é também idéia recorrente nos discursos de outras candidaturas no município. Não acredito que seja apenas uma questão semântica, para a rima da campanha... na verdade, essa idéia de descrédito em relação ao passado soa bastante providencial às principais candidaturas.
Ouço muito os jovens reclamarem da frustração de ter que utilizar seu primeiro voto nesse processo eleitoral tão desestimulante. Eles revelam o interesse em votar de verdade, num candidato que os representasse. No entanto, não encontram alternativa.
Essa idéia de que o passado ficou pra trás cria, ao mesmo tempo, uma impressão de que as coisas surgem "do nada", que um candidato é aquele que roubou demais, e o outro também pode roubar, mas roubará menos. Que um construiu isso e o outro aquilo. E assim, a discussão vai rumando para um ponto finito, excluindo qualquer outra possibilidade. Nessa matemática simples, quem nunca exerceu um mandato público, de preferência no executivo, não está "preparado". Talvez em outra ocasião possamos pensar um pouco sobre o significado dessa "preparação".
No entanto, o passado não "ficou" pra trás. Ele "está" lá atrás, e seus reflexos aqui conosco. Ele precisa ser revisitado. Porém, esse exercício é perigoso, pelo menos parece ser a preocupação da maioria dos candidatos. Quem quer deixar o passado pra trás quer tirar a capacidade crítica do cidadão, quer a visão momentânea, instantânea. Temo muito pelos desastres que podem ocorrer em nossa cidade nos próximos anos em relação a educação.
O salário do professor no magistério público estadual é de apenas R$ 540,65 (embora alguns achem que é muito, como já mostrei aqui no blog), enquanto que no Acre, é de R$ 1.498,00, um Estado cujo o PIB em 2005 foi de R$ 44,8 bilhões, contra R$ 246,9 bilhões do Rio de Janeiro (IBGE). Comparando-se o PIB do estado e o salário do professor nesses dois casos, vemos que os investimentos em educação são vergonhosos por aqui.
Já o professor da rede municipal em Campos recebe aproximadamente o dobro, porém, as condições de trabalho são péssimas. São comuns as reclamações sobre falta de recursos nas escolas do município: não há biblioteca, xerox (os professores têm que pagar do próprio bolso as cópias), nem matriz pra mimeógrafo, a condição dos prédios é precária, enquanto na rede estadual, pelo menos as escolas que conheço, possuem bons acervos em suas bibliotecas (tanto para os alunos quanto para os professores), recursos multi-mídia, laboratórios de informática, etc. Será que não daria pra associar as duas coisas? É tenebroso o futuro que vislumbro daqui.


(clique na imagem abaixo para ampliar)

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